A Substância - A dolorosa experiência da beleza

Eis que "A Substância" invadiu as redes sociais depois da sua passagem pelos cinemas e entrada no streaming .

Este filme do género de "body horror" é uma experiência que nos faz ficar a contorcer na cadeira pelas cenas cruas e horríficas mas que não se consegue desviar o olhar.

Lema do filme "A substância" - Vocês são um.


A história

Elisabeth (Demi Moore) é uma estrela da TV que tem um programa de televisão de ginástica mas que é informada por Harvey (Dennis Quaid), um director do canal, que será substituída em breve por uma nova cara.

Elisabeth acaba por ir a uma clínica na qual alguém lhe dá uma pen drive no qual ela fica a saber sobre um inovador produto, a tal substância, que lhe dará oportunidade usufruir da sua melhor versão.

Hesitante, ela faz o telefonema para adquirir a substância, e mais tarde foi levanta-la num lugar meio obscuro. Já em casa, ela lê as instruções (que mais tarde vai-se saber o que acontece caso não se cumpram as regras) e decide começar o procedimento.

A partir daqui o filme entra numa espiral de imagens gráficas e hipersexualização.

Sem dar spoilers. Elisabeth se torna em Sue (Margaret Qualley), e Sue em Elizabeth em períodos alternados de 7 dias. Não seria um filme de terror se alguma coisa não corresse mal.

No filme, Sue e Elisabeth trocam de 7 em 7 dias.


De que se trata o filme?

O filme não esconde ao que vem. Os planos apertados em Harvey para dar um ar grotesco e nojento à personagem e o mesmo em Sue mas para focar exageradamente na sua jovialidade e sensualidade desenha uma imagem difícil de ignorar. O grotesco que é a objectificação do corpo feminino.

O filme vai ainda mais longe, pois a objectificação do corpo da mulher e a sua juventude é valorizada em oposição a quem "já envelheceu e passou do seu tempo".

O final, que na minha opinião é bem questionável no sentido narrativo, ainda nos guarda mais uma mensagem, mas essa deixo-a para vocês.

Sue é a "melhor versão" de Elisabeth


O filme é bom?

O filme é muito bom, mas talvez não seja adequado a todo o tipo de públicos. O filme tem cenas surreais, tem falta de corência na história e tudo parace ser um exagero. Acontecem coisas que não fazem sentido nenhum, mas acho que quem aceita que um humano saia dentro de outro também aceita as incorências e inconsitências.

O filme, e talvez este seja o único, pode dar-se ao luxo de fazer todas estas coisas pois o ritmo electrizante com Sue e o depressivo psicológico de Elizabeth toleram muito bem os elementos exagerados que levam a narrativa a uma hipérbole grotesca. Afinal, este é um filme de terror, não um conto de fadas.

Elisabeth é uma apresentadora em fim de carreira

A moral da história

O filme não esconde que o machismo é grotesco, a objetificação do corpo é destruidor da auto estima e que o sucesso é visto na perspectiva da beleza e juventude. Quanto mais jovem e bela, mais a mulher é promovida e tem sucesso.

Mas o fim deixa dúvidas se realmente o machismo grotesco tem consequências para quem o pratica. Sem dar spoilers, no fim apenas Sue e Elizabeth sofrem com o uso da substância e todas as outras personagem que infligiram sofrimento psicológico a Elizabeth não sofrem mais do que um banho.

A substância ainda está nos cinemas em Portugal e Brasil mas em breve deverá ficar disponível no Mubi.


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